A eficácia da norma que ousou falar seu nome: os Princípios de Yogyakarta como potência densificadora do Ius Constitutionale Commune na América Latina

Tiago Benício Trentini, Luiz Magno Bastos Jr

Resumo


O artigo pretende defender que tais enunciados (os Princípios de Yogyakarta), por força discursiva de pronunciamentos vinculantes emanados da Corte Interamericana de Direitos Humanos e de sua introjeção em processos nacionais de densificação dos direitos das pessoas LGBTI, passam a integrar esse insurgente ICCAL e, como tal, a gramática dos direitos humanos na América Latina de forma que, definitivamente, já não possam mais ser ignorados pelas autoridades nacionais. A fim de pavimentar o caminho para a construção das premissas aqui sinalizadas, buscou-se conjugar um duplo esforço metodológico: o primeiro, de cunho acentuadamente dedutivo por meio do qual se procurou construir as bases do fundamento ético-normativo adotado (pela conjugação da concepção identitária de Axel Honnet e as bases do direito antidiscriminatório de Adilson Moreira); o segundo, de caráter predominantemente indutivo, por meio do qual buscou-se inferir das decisões da Corte Interamericana e das leis identitárias e decisões nacionais os fragmentos aptos a identificar a presença dos Princípios de Yogyakarta, conferindo-lhe força jurídica irradiante no contexto do IACCL.
O potencial inovador do presente artigo consiste em revelar como é possível conferir eficácia normativa a Princípios que, originariamente, eram desprovidos de caráter vinculante. Sua legitimação material decorre da racionalidade dialógica que conferiu voz a percepção de grupos vulnerabilizados sobre sua própria condição existencial, conferindo potência a luta emancipatória de sujeitos coletivos por reconhecimento e por igual proteção do Estado.

Palavras-chave


Ius Constitutionale Commune. Constitucionalismo transformador. Princípios de Yogyakarta. Sistema Interamericano de Direitos Humanos. LGBTI.

Texto completo:

PDF

Referências


ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e; CASELLA, Paulo Borba. Manual de direito internacional público. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo: a experiência vivida. Vol.2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.

VON BOGDANDY, Armin. Ius Constitutionale Commune na América Latina: uma reflexão sobre um constitucionalismo transformador. Revista de Direito Administrativo. Belo Horizonte, n. 269, maio/ago. 2015. Disponível em: . Acesso em 11 out. 2021.

VON BOGDANDY, Armin; MORALES ANTONIAZZI; FERRER MAC-GREGOR, Eduardo. Ius Constitutionale Commune em América Latina – Textos básicos para su comprensión. Instituto de Estudios Constitucionales del Estado de Querétaro Max Planck Institute for Comparative Public Law and International Law – México, 2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADO 26/DF – Ação direta de inconstitucionalidade. Brasília, DF. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADO26votoMCM.pdfAcesso em: 19 mai. 2021.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. MI 4733/DF – Ação direta de inconstitucionalidade. Brasília, DF. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/MI4733mEF.pdf . Acesso em: 19 mai. 2021.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.

BUTLER, Judith. Vida precária: os poderes do luto e da violência. Trad. Andreas Lieber. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.

CARPENTER, Morgan. Intersex human rights, sexual orientation, gender identity, sex characteristics and the Yogyakarta Principles plus 10. Culture Health & Sexuality, jul. 2020. Routledge.

Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Informe sobre Personas Trans y de Género Diverso y sus derechos económicos, sociales, culturales y ambientales, 2020. Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/informes/pdfs/PersonasTransDESCA-es.pdf. Acesso em: 20 mai. 2021.

CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Caso Duque vs. Colombia. Sentencia de 26 de febrero de 2016. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_310_esp.pdf. Acesso em: 05 abr. 2021.

CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Opinión Consultiva OC-24/17 de 24 de noviembre de 2017. Solicitada por la República de Costa Rica. Identidad de género, e igualdad y no discriminación a parejas del mismo sexo. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_24_por.pdf Acesso em: 05 abr. 2021.

FERNANDES, Estevão Rafael. Decolonizando sexualidades: enquadramentos coloniais e homossexualidade indígena no Brasil e nos Estados Unidos. 2015. 383 f., il. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) - Universidade de Brasília, Brasília, 2015.

FLORES, Joaquim Herrera. A reinvenção dos direitos humanos. Entrevista concedida a José Geraldo de Sousa Junior para Constituição & Democracia – Observatório da Constituição e da Democracia. Brasília: UnB/Faculdade de Direito-Sindjus-DF, nº23, junho de 2008.

FRA, The European Union Agency for Fundamental Rights, (2015). The fundamental rights situation of intersex people (FRA Focus).

HOLLOWAY, Geoff. The Yogyakarta Principles & the Women´s Human Rights Campaign. 2020

HOLZER, Lena. Smashing the Binary? A new era of legal gender registration in the Yogyakarta Principles Plus 10. International Journal of Gender, Sexuality and Law, Vol.01, Nº1, 98-133, 2020.

HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo: Ed. 34, 2003.

LUGONES, Maria. Rumo a um feminismo decolonial. Revista de Estudos Feministas. v.22. n3, p.935-954, 2014.

MOREIRA, Adilson José. Tratado de Direito Antidiscriminatório. São Paulo: Editora Contracorrente, 2020.

NERY, João W. Viagem solitária: memórias de um transexual 30 anos depois. São Paulo: Leya, 2011.

O’FLAHERTY, Michael; FISCHER, John. Sexual orientation, gender identity and International Human Rights Law: contextualising the Yogyakarta Principles. Human Rights Law Review, Oxford, v. 8, n. 2, p. 207-248, jan. 2008.

PIOVESAN, Flávia. Ius Constitutionale Commune latino-americano em Direitos Humanos e o Sistema Interamericano: perspectivas e desafios. Rev. Direito Práxis, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p.1356-1388, June 2017. Available from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S217989662017000201356&lng=en&nrm=iso . Acesso em 04 Apr. 2021.

PRINCÍPIOS de Yogyakarta: princípios sobre a aplicação da legislação internacional de direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero. Tradução Jones de Freitas. jul. 2007. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/gays/principios_de_yogyakarta.pdf . Acesso em: 15 mar. 2021.

RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, Justificando, 2017.

SANDERS, Douglas. International: the role of the Yogyakarta Principles. Aug. 2008. Disponível em . Acesso em: 22 mai. 2021.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitismo multicultural. Introdução: para ampliar o cânone do reconhecimento, da diferença e da igualdade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Toward a New Commom Sense: Law, Science and Politics in the Paradigmatic Trasition. Nova Iorque: Routledge, 1995, p.508).

SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. Epistemologias do Sul. Introdução. Coimbra: Edições Almedina, 2009

SCHINCARIOL, Rafael Luiz Feliciano da Costa. Justiça de Transição e Reconhecimento: Análise do caso Brasileiro. Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2013.

SOUSA JUNIOR, José Geraldo de. (coord). O Direito Achado na Rua: concepção e prática. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015.

THE YOGYAKARTA principles plus 10: additional principles and state obligations on the application of international human rights law in relation to sexual orientation, gender identity, gender expression and sex characteristics to complement the Yogyakarta principles. Geneva, Nov.2017. Disponível em:. Acesso em: 15 mar. 2021.

THE YOGYAKARTA: Principles on the application of international human rights law in relation to sexual orientation and gender identity. Yogyakarta, Nov. 2006. Disponível em: Acesso em: 15 mar. 2021.

Third International Intersex Forum, 2013. Malta Declaration. Disponível em: < https://oiieurope.org/malta-declaration/> . Acesso em: 23 mai. 2021

THORESON, Ryan Richard. Queering Human Rights: The Yogyakarta Principles and the Norm That Dare Not Speak Its Name. Journal of Human Rights 8, 2009, 323–339.

UNITED NATIONS. Human Rights Council. Discriminatory laws and practices and acts of violence against individuals based on their sexual orientation and gender identity: report of the United Nations High Commissioner for Human Rights. Nineteenth session. Nov. 2011. § 76. Disponível em: Acesso em: 22 mai. 2021.




DOI: https://doi.org/10.5102/rbpp.v11i2.7845

ISSN 2179-8338 (impresso) - ISSN 2236-1677 (on-line)

Desenvolvido por:

Logomarca da Lepidus Tecnologia